A Morte tem muitas faces, uma Caveira, uma Sombra, um Ceifeiro entre muitas outras, mas a que eu irei falar hoje é a figura do Corvo.
O Corvo é um pássaro
negro, mais comum na Europa, e muito curioso. Pode imitar voz de humanos, uivos
de lobos e pios de outros pássaros. Na idade média o Corvo era conhecido por
ser um presságio de Morte, isto é, sempre que alguém avistava um Corvo
significava que alguém havia morrido ou morreria em breve. O Corvo também era
usado como mensageiro, e mais tarde mudado para Pombos-correios.
Falar sobre a Morte é
muito inspirador, e graças a esta inspiração, foi criado a Obra-Prima de Edgar Allan Poe: O Corvo.
O Corvo foi publicado pela primeira vez em
1845 pelo New York Evening Mirror.
Conta a história de um homem que lamenta a morte de sua amada, Lenore, ou
Lenora em algumas traduções, quando entra um Corvo em sua casa, daí então
algumas coisas e diálogos misteriosos acontecem. Em suas primeiras publicações
o Poema teve ilustrações do artista Francês Gustavo Doré. Este post será uma analise de parte desse maravilhoso poema.
Notas iniciais: Em minha opinião, a melhor tradução do
poema é a de Fernando Pessoa, mas não se compara ao original em inglês.
É impressionante como Poe consegue deixar o clima cada vez mais tenso e
sombrio. Nesta analise eu irei colocar o poema original e a tradução literal do
mesmo.
The Raven
Once upon a midnight dreary, while I pondered,
weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of
forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there
came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my
chamber door.
"'T is some visiter," I muttered,
"tapping at my chamber door—
Only this, and nothing more."
(O Corvo
Era uma meia-noite
sombria, enquanto eu ponderava fraco e cansado,
Ao longo de muitos
volumes de curiosos manuais
Enquanto eu balancei a
cabeça, quase dormindo, de repente, veio uma batida,
Como de alguém batendo
suavemente, batendo em meus umbrais.
"É um
visitante", murmurei, "está batendo em meus umbrais
Só isso, e nada mais. ")
O
conto começa com este homem, provavelmente com insônia, lendo manuais e enciclopédias
para tentar adormecer. Quando a cabeça do homem começa a abaixar e ele começa a
adormecer ele houve uma batida em seu umbral (um tipo de porta alta e pesada,
na maioria das vezes dupla), o Homem pensa ser apenas algum visitante, alguém
querendo ajuda naquela hora da madrugada, talvez.
And each separate dying ember wrought its ghost
upon the floor.
Eagerly I wished the morrow:—vainly I had
sought to borrow
From my books surcease of sorrow—sorrow for the
lost Lenore—
For the rare and radiant maiden whom the angels
name Lenore—
Nameless here for
evermore.
(Ah, que bem disso me
lembro, era no frio de dezembro,
E a brasa da lareira
lançava um brilho espectral.
Ansiosamente eu
desejei o amanhã: em vão tentando esquecer do ocorrido,
De meus livros cheios
de tristeza-tristeza pela perda de Lenore
Para a preciosa e
radiante dama a quem os anjos chamam Lenore
E nome aqui já não tem
mais.)
Nesta segunda parte podemos entender o porquê da insônia do
rapaz: a perda de sua amada Lenore. Para ele qualquer coisa a lembra, até mesmo
a chama da lareira com um aspecto espectral, isto é, com um brilho fantasmagórico,
passando a lembrança da morte da amada à ele, assim como os livros, que não o
alegravam mais, tudo pela perda de Lenore.
And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me—filled me with fantastic terrors
never felt before;
So that now, to still the beating of my heart,
I stood repeating
"'T is some visiter entreating entrance at
my chamber door
Some late visiter entreating entrance at my
chamber door;—
This it is, and nothing more."
(Sussurros que vinham
da cortina roxa de seda fina
Me torturando e
enchendo de terrores fantásticos que nunca havia sentido.
De modo que agora, com
as fortes batidas de meu coração, eu ia repetindo para acalma-lo:
"'É apenas um
visitante pedindo entrada em meus umbrais
Uma visita tardia
pedindo entrada em meus umbrais; -
É só isto, e nada
mais. ")
O pobre rapaz se encheu de medo de algum espírito ou a
própria Lenore estivesse batendo em seus umbrais, pensou até ter ouvido vozes
vindo de uma cortina roxa em seu quarto e, para acalmar o coração que batia
rapidamente, ele repetia que era apenas algum visitante pedindo para que
entrasse em sua casa por algum motivo e não um ser fantasmagórico.
"Sir," said I, "or Madam, truly
your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently
you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my
chamber door,
That I scarce was sure I heard you"—here I
opened wide the door;—
Darkness there, and nothing more.
(E
então, a minha alma ficou mais poderosa; não iria mais hesitar,
"Senhor",
disse eu, "ou senhora, verdadeiramente o seu perdão eu imploro;
Mas o fato é que eu
estava adormecido, e tão gentilmente você veio batendo,
E assim você veio
levemente batendo, batendo em meus umbrais,
Que eu quase não o
ouvi "-e então abri as portas; -
Trevas e nada mais.)
E então o homem se encheu de coragem e resolveu se aventurar
e descobrir quem era o misterioso visitante. Enquanto caminha ele pedia
desculpas ao homem, ou mulher, dizia que estava quase adormecido e quase não
ouviu às batidas nos umbrais. Ao abrir as portas o homem teve um susto... Nada
e ninguém se encontravam do outro lado da porta.
Deep
into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared
to dream before;
But the silence was unbroken, and the darkness
gave no token,
And the only word there spoken was the
whispered word, "Lenore!"
This I whispered, and an echo murmured back the
word, "Lenore!"
Merely this and nothing more.
(Afogado no meio das
trevas, tempo fiquei ali pensando, temendo,
Duvidando, era algum
sonho, sonho que nenhum mortal jamais se atreveu a sonhar antes;
Mas a noite era
infinita, e das trevas não apareceu nenhum sinal,
E a única palavra dita
foi um sussurro, "Lenore!"
Isso eu sussurrei, e
um eco murmurou de volta a palavra "Lenore!"
Isso apenas e nada
mais.)
O Homem fica paralisado em meio a noite de inverno, ele acha
estar sonhando, um sonho que nenhuma mortal atreveria de sonhar, de tão
horrenda que era a situação. Em meio a escuridão o homem sussurrou apenas o
nome de sua amada, Lenora, e o eco respondeu com o mesmo nome.
Back into the chamber turning, all my soul
within me burning,
"Surely," said I, "surely that
is something at my window lattice;
Let me see, then, what thereat is, and this
mystery explore—
Let my heart be still a moment and this mystery
explore;—
'T is the wind and nothing more!"
(Em casa eu fui
volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Logo mais eu ouvi uma
batida, um pouco mais alto do que antes.
"Certamente,"
disse eu, "aquela bulha é na minha janela;
Deixe-me ver, então, o
que está nela, e esse mistério explorar-
Coração, acalme-se um
momento e vamos este mistério explorar; -
É o vento, e nada
mais! ")
Ao voltar para dentro de casa, ainda aterrorizado, as batidas voltam a ser ouvidas, desta vez
ainda mais forte e alto e ele resolve olhar pela janela, assim, talvez consiga
reconhecer alguém ou a carruagem.
In there stepped a stately Raven of the saintly
days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute
stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above
my chamber door—
Perched upon a bust of Pallas just above my
chamber door—
Perched, and sat, and nothing more.
(Escancarei-a então,
quando, com muitos movimentos e vibrações,
De lá saiu um corvo
imponente dos tempos ancestrais.
Não parou por um
minuto, qual fidalgo absoluto,
E de modo resoluto
pousou bem junto aos portais
Empoleirado em cima de
um busto de Pallas bem acima de meus umbrais.
Empoleirado, e nada mais.)
Ao abrir as janelas,
eis que entra um Corvo, que rapidamente, sem nem mesmo ligar para o dono da
casa, como um fidalgo, o Corvo se empoleira em cima de um busto de Pallas
Athena que fica em cima dos umbrais.
Then this ebony bird beguiling my sad fancy
into smiling,
By the grave and stern decorum of the
countenance it wore,
"Though thy crest be shorn and shaven,
thou," I said, "art sure no craven,
Ghastly grim and ancient Raven wandering from
the Nightly shore,—
Tell me what thy lordly name is on the Night's
Plutonian shore!"
Quoth the Raven,
"Nevermore."
(E esta ave de ébano
com ares senhoriais, mesmo triste, me fez rir,
Até o decoro grave e
severo do rosto que usava,
"Ainda que tua
crista foi cortado e aparado, tu," eu disse, "de certeza corajoso,
Ó velho corvo emigrado
lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu
nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo,
"Nunca mais".)
A primeira coisa que o homem faz ao ver o Corvo mais
atentamente é rir da cara dele por ele não ter crista, mas logo em seguida ele
pergunta ao Corvo qual seu nome, e, para o espanto do homem o Corvo responde “Nunca
Mais”.
Much I marvelled this ungainly fowl to hear
discourse so plainly,
Though its answer little meaning—little
relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living
human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his
chamber door—
Bird or beast upon the sculptured bust above
his chamber door,
With such name as "Nevermore."
(Muito fiquei
maravilhado ao ouvir esta rara ave falar tão claro.
Apesar de sua resposta
pouco relevância;
Pois não podemos
deixar de concordar que nenhum ser humano vivo
Ainda que nunca foi
abençoado com a visão ave acima de seus umbrais-
Pássaro ou bicho sobre
o busto esculpido acima dos umbrais,
Com tal nome
"Nunca mais".)
O homem fica maravilhado ao ouvir o
pássaro negro falar tão claramente, mesmo que palavras com significados tão
comuns e irrelevantes. Ele sente-se honrado por ter sido o primeiro homem a ter
um pássaro deste, acima de seus portais, falar seu nome, Nunca Mais.